terça-feira, 21 de abril de 2020

Devemos crer em revelações?





















“Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração.” (II Pedro 1:19).

Profecias bíblicas se cumprem sempre, sem exceção. Por isso podemos ter absoluta confiança nelas. Mas quem confia em adivinhações está perdido!

Importante esclarecer que ao fazer uso do termo “adivinhações” não estou me referindo a cartomantes, videntes, astrólogos ou feiticeiros. Creio que o público cristão que me lê não possui qualquer dúvida quanto a estas práticas e sua natureza contrária à Palavra de Deus.

Antes, me refiro a falsos profetas da atualidade que se julgam porta vozes da Palavra de Deus e percorrem casas e igrejas lançando acusações, indicando prováveis mortes, revelando supostos segredos da vida moral alheia, determinando decisões na vida pessoal das pessoas ou trazendo curas ou soluções sobrenaturais para os mais diversos problemas humanos, assumindo um verdadeiro transe, muito parecido com o avistado nos terreiros de umbanda, onde os “cavalos” são possuídos por caboclos ou orixás e desenvolvem o mesmo papel diante dos seus frequentadores.

Agora mesmo nos dias em que vivemos prolifera pelas redes sociais uma suposta profecia dada por múltiplos “feiticeiros neopentecostais” de que caso seja encontrado um fio de cabelo dentro de uma Bíblia, basta mergulhá-lo num copo de água e bebê-la para em seguida obter a cura do coronavírus. 

Por mais cômico que possa parecer à primeira vista, este tipo de absurdo é crido por muitos e precisamos enxergar à luz das Escrituras qual o limite para aquilo que muitos acreditam ser uma revelação dada por Deus.

Quero deixar bem claro de início que não me posiciono teologicamente como um cessacionista. Ou seja, eu creio na atualidade de todos os sinais e prodígios divinos, assim como nos dons espirituais relatados na Bíblia. Creio, portanto, que Deus é soberano e todo poderoso, podendo, se assim desejar, mostrar-nos qualquer fato, inclusive pelos meios menos presumíveis e usar Seus servos de forma sobrenatural, se Ele assim determinar.

Entretanto, penso que há graves erros exegéticos e hermenêuticos, quando se fala em dons e ministérios nos dias atuais. Por exemplo, não creio em profetas e revelações da forma como os vemos em dias atuais, onde os vejo mais próximos dos xamãs, bruxos e gurus da feitiçaria, do que dos humildes servos de Deus cheios do Espírito Santo, conforme Paulo relata escrevendo à igreja em Corinto.

Tentarei aqui defender minha ótica pessoal a respeito com o máximo de clareza e embasamento bíblico possíveis.

No Novo Testamento, um texto-chave sobre o ministério profético é o de I Coríntios 13.8: “O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”. Essa é uma declaração básica sobre o futuro, esclarecendo se haveria ou não profecias, línguas ou ciência (aumento do conhecimento bíblico).

A Bíblia explica, portanto, que essas coisas certamente cessarão. A questão é: quando elas cessarão? 

Chegaremos mais perto da resposta se continuarmos lendo os versículos 9-10: “porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”. O que fora designado como passageiro, as profecias, as línguas e a ciência, cessaria com a chegada do que “é perfeito”. Poderíamos pensar que “o que é perfeito” seria a vinda de Jesus e o início do Seu reinado na terra. Mas o versículo 13 mostra que não é isso: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três (não profecias, línguas e ciência, que claramente já deixaram de existir); porém o maior destes é o amor” (1 Co 13.13).

Se “o que é perfeito” fosse a volta de Cristo e Seu reino, isso significaria que a fé e a esperança permaneceriam, ao lado do amor. É evidente que o amor permanecerá por toda a eternidade. E como ficam a fé e a esperança? Ambas se tornam desnecessárias quando o reino de Deus se tornar uma realidade visível. Quando estivermos vendo Aquele que fora objeto de nossa fé no passado, não precisaremos mais crer. Em outras passagens, a Bíblia nos ensina que passaremos do crer para o ver, do abstrato para o concreto:

– 2 Coríntios 5.7: hoje vivemos por fé e não pelo que vemos.
– Hebreus 11.1: a fé está relacionada com coisas que não vemos.
– Romanos 8.24: esperança que se vê não é esperança.

Portanto, um dia passaremos do crer para o ver, da fé e da esperança para ver a Cristo – quando Ele voltar. E quando estivermos vendo a Jesus e participando do Seu reino, a fé e a esperança não serão mais necessárias. Mas o amor permanecerá. Portanto, *“o que é perfeito” não pode ser a volta de Cristo e Seu reino eterno. Então, o que poderia significar o versículo 13 de 1 Coríntios 13?

Na minha opinião, ele refere-se à conclusão do cânon bíblico, que se deu por volta do ano 100 d.C. com a redação do livro do Apocalipse. Quando foi escrita a carta aos Coríntios, a revelação neotestamentária ainda não estava completa; a revelação divina também não estava concluída.

Por isso ainda havia profecias por meio de profetas, assim como o dom de línguas com interpretação. Em consequência houve um aumento no conhecimento (ciência), justamente porque nem tudo estava revelado. Com a conclusão da Bíblia, essas coisas cessaram, e se mantiveram a fé, a esperança e o amor.

Diante dessa problemática, certamente não é por acaso que a Bíblia termina com as palavras: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19).

Nada deve ser acrescido à Bíblia, nada deve ser tirado. A revelação divina está completa e acabada.
Obrigatoriamente não poderá mais haver profecias, pois se esse ministério continuasse depois do registro bíblico, as profecias teriam de ser inspiradas diretamente por Deus (2 Pe 1.20-21) e acrescidas à Bíblia como revelações complementares. Da mesma forma, nada deve ser retirado da Bíblia, como costuma fazer o liberalismo teológico.

Na época da primeira geração da Igreja obviamente ainda havia profetas, entre eles Paulo, Barnabé, Judas, Silas, Ágabo e outros (At 13.1; At 15.32; At 21.10), assim como houve apóstolos até a finalização do texto bíblico (1 Co 12.28; Ef 4.11). Assim como hoje, depois de concluído o cânon do Novo Testamento, *não existem mais apóstolos, também deixaram de existir os profetas*. Se não fosse assim, poderíamos concluir inversamente que ainda deveria haver apóstolos, o que é impossível conforme Hebreus 2.4, que usa o verbo no tempo passado. Os apóstolos e profetas foram chamados “apenas” para lançar a base e o fundamento, para estabelecer a Igreja (Ef 2.19-22).

Mas o que continua com toda a certeza, mesmo depois da conclusão da revelação divina e até a volta de Jesus, é o ministério de evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12). Seu serviço continua edificando a Igreja de Jesus depois que o fundamento foi colocado pelos profetas e apóstolos de uma vez por todas. Portanto, *nossos profetas atuais são aqueles que pregam com exatidão a Palavra de Deus e nossos apóstolos são aqueles que desbravam terras longínquas fazendo Missões e tornando Cristo conhecido entre povos remotos*.

Nesse aspecto é interessante observar que o apóstolo Pedro fala (em 2 Pedro 2.1) de falsos profetas no tempo passado, mas em relação ao futuro ele menciona apenas falsos mestres e não falsos profetas. Como apóstolo, ele sabia que no futuro não haveria mais profetas; portanto não haveria falsos profetas, mas haveria, sim, falsos mestres: *“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1).*

Depois da era da Igreja, no tempo da Grande Tribulação, haverá novamente profetas verdadeiros: as Duas Testemunhas do Apocalipse (Ap 11.10). E então haverá mais uma vez um “falso profeta” imitando esse ministério (Ap 19.20).

Portanto meus amados, não creiam em tudo que lhes é trazido como revelação dada por um suposto profeta. Deus ainda pode nos trazer revelações específicas e de forma pontual?

Sim, Ele é Deus e pode todas as coisas. Mas isto seria exceção e não regra. Jamais seria uma prática corriqueira, diária e presente em cada esquina como vemos nos dias atuais, ou seja, “NEM TUDO QUE RELUZ É OURO”.

Se o desejo do seu coração é ouvir a voz de Deus e conhecer a Sua Palavra Profética, esqueça os gritos humanos e leia a Bíblia. Lá você encontrará a perfeita revelação do Criador para o homem de todas as épocas!

Pr. Reinaldo Ribeiro
Pb. João Placoná