“Temos, assim, tanto mais
confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça
em vosso coração.” (II Pedro 1:19).
Profecias bíblicas se cumprem
sempre, sem exceção. Por isso podemos ter absoluta confiança nelas. Mas quem
confia em adivinhações está perdido!
Importante esclarecer que ao
fazer uso do termo “adivinhações” não estou me referindo a cartomantes,
videntes, astrólogos ou feiticeiros. Creio que o público cristão que me lê não
possui qualquer dúvida quanto a estas práticas e sua natureza contrária à
Palavra de Deus.
Antes, me refiro a falsos
profetas da atualidade que se julgam porta vozes da Palavra de Deus e percorrem
casas e igrejas lançando acusações, indicando prováveis mortes, revelando
supostos segredos da vida moral alheia, determinando decisões na vida pessoal
das pessoas ou trazendo curas ou soluções sobrenaturais para os mais diversos
problemas humanos, assumindo um verdadeiro transe, muito parecido com o
avistado nos terreiros de umbanda, onde os “cavalos” são possuídos por caboclos
ou orixás e desenvolvem o mesmo papel diante dos seus frequentadores.
Agora mesmo nos dias em que
vivemos prolifera pelas redes sociais uma suposta profecia dada por múltiplos
“feiticeiros neopentecostais” de que caso seja encontrado um fio de cabelo dentro
de uma Bíblia, basta mergulhá-lo num copo de água e bebê-la para em seguida
obter a cura do coronavírus.
Por mais cômico que possa parecer à primeira
vista, este tipo de absurdo é crido por muitos e precisamos enxergar à luz das
Escrituras qual o limite para aquilo que muitos acreditam ser uma revelação
dada por Deus.
Quero deixar bem claro de início
que não me posiciono teologicamente como um cessacionista. Ou seja, eu creio na
atualidade de todos os sinais e prodígios divinos, assim como nos dons espirituais
relatados na Bíblia. Creio, portanto, que Deus é soberano e todo poderoso,
podendo, se assim desejar, mostrar-nos qualquer fato, inclusive pelos meios
menos presumíveis e usar Seus servos de forma sobrenatural, se Ele assim
determinar.
Entretanto, penso que há graves
erros exegéticos e hermenêuticos, quando se fala em dons e ministérios nos dias
atuais. Por exemplo, não creio em profetas e revelações da forma como os vemos
em dias atuais, onde os vejo mais próximos dos xamãs, bruxos e gurus da feitiçaria,
do que dos humildes servos de Deus cheios do Espírito Santo, conforme Paulo
relata escrevendo à igreja em Corinto.
Tentarei aqui defender minha
ótica pessoal a respeito com o máximo de clareza e embasamento bíblico
possíveis.
No Novo Testamento, um
texto-chave sobre o ministério profético é o de I Coríntios 13.8: “O amor
jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará”. Essa é uma declaração básica sobre o futuro,
esclarecendo se haveria ou não profecias, línguas ou ciência (aumento do
conhecimento bíblico).
A Bíblia explica, portanto, que
essas coisas certamente cessarão. A questão é: quando elas cessarão?
Chegaremos
mais perto da resposta se continuarmos lendo os versículos 9-10: “porque, em
parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é
perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”. O que fora designado como
passageiro, as profecias, as línguas e a ciência, cessaria com a chegada do que
“é perfeito”. Poderíamos pensar que “o que é perfeito” seria a vinda de Jesus e
o início do Seu reinado na terra. Mas o versículo 13 mostra que não é isso:
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três (não profecias,
línguas e ciência, que claramente já deixaram de existir); porém o maior destes
é o amor” (1 Co 13.13).
Se “o que é perfeito” fosse a
volta de Cristo e Seu reino, isso significaria que a fé e a esperança
permaneceriam, ao lado do amor. É evidente que o amor permanecerá por toda a
eternidade. E como ficam a fé e a esperança? Ambas se tornam desnecessárias
quando o reino de Deus se tornar uma realidade visível. Quando estivermos vendo
Aquele que fora objeto de nossa fé no passado, não precisaremos mais crer. Em
outras passagens, a Bíblia nos ensina que passaremos do crer para o ver, do
abstrato para o concreto:
– 2 Coríntios 5.7: hoje vivemos
por fé e não pelo que vemos.
– Hebreus 11.1: a fé está
relacionada com coisas que não vemos.
– Romanos 8.24: esperança que se
vê não é esperança.
Portanto, um dia passaremos do
crer para o ver, da fé e da esperança para ver a Cristo – quando Ele voltar. E
quando estivermos vendo a Jesus e participando do Seu reino, a fé e a esperança
não serão mais necessárias. Mas o amor permanecerá. Portanto, *“o que é
perfeito” não pode ser a volta de Cristo e Seu reino eterno. Então, o que
poderia significar o versículo 13 de 1 Coríntios 13?
Na minha opinião, ele refere-se à
conclusão do cânon bíblico, que se deu por volta do ano 100 d.C. com a redação
do livro do Apocalipse. Quando foi escrita a carta aos Coríntios, a revelação
neotestamentária ainda não estava completa; a revelação divina também não
estava concluída.
Por isso ainda havia profecias
por meio de profetas, assim como o dom de línguas com interpretação. Em consequência
houve um aumento no conhecimento (ciência), justamente porque nem tudo estava
revelado. Com a conclusão da Bíblia, essas coisas cessaram, e se mantiveram a
fé, a esperança e o amor.
Diante dessa problemática,
certamente não é por acaso que a Bíblia termina com as palavras: “Eu, a todo
aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes
fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste
livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia,
Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se
acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19).
Nada deve ser acrescido à Bíblia,
nada deve ser tirado. A revelação divina está completa e acabada.
Obrigatoriamente não poderá mais
haver profecias, pois se esse ministério continuasse depois do registro
bíblico, as profecias teriam de ser inspiradas diretamente por Deus (2 Pe
1.20-21) e acrescidas à Bíblia como revelações complementares. Da mesma forma,
nada deve ser retirado da Bíblia, como costuma fazer o liberalismo teológico.
Na época da primeira geração da
Igreja obviamente ainda havia profetas, entre eles Paulo, Barnabé, Judas,
Silas, Ágabo e outros (At 13.1; At 15.32; At 21.10), assim como houve apóstolos
até a finalização do texto bíblico (1 Co 12.28; Ef 4.11). Assim como hoje,
depois de concluído o cânon do Novo Testamento, *não existem mais apóstolos,
também deixaram de existir os profetas*. Se não fosse assim, poderíamos
concluir inversamente que ainda deveria haver apóstolos, o que é impossível
conforme Hebreus 2.4, que usa o verbo no tempo passado. Os apóstolos e profetas
foram chamados “apenas” para lançar a base e o fundamento, para estabelecer a
Igreja (Ef 2.19-22).
Mas o que continua com toda a
certeza, mesmo depois da conclusão da revelação divina e até a volta de Jesus,
é o ministério de evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12). Seu serviço
continua edificando a Igreja de Jesus depois que o fundamento foi colocado
pelos profetas e apóstolos de uma vez por todas. Portanto, *nossos profetas
atuais são aqueles que pregam com exatidão a Palavra de Deus e nossos apóstolos
são aqueles que desbravam terras longínquas fazendo Missões e tornando Cristo
conhecido entre povos remotos*.
Nesse aspecto é interessante observar
que o apóstolo Pedro fala (em 2 Pedro 2.1) de falsos profetas no tempo passado,
mas em relação ao futuro ele menciona apenas falsos mestres e não falsos
profetas. Como apóstolo, ele sabia que no futuro não haveria mais profetas;
portanto não haveria falsos profetas, mas haveria, sim, falsos mestres: *“Assim
como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós
falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras,
até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si
mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1).*
Depois da era da Igreja, no tempo
da Grande Tribulação, haverá novamente profetas verdadeiros: as Duas
Testemunhas do Apocalipse (Ap 11.10). E então haverá mais uma vez um “falso
profeta” imitando esse ministério (Ap 19.20).
Portanto meus amados, não creiam
em tudo que lhes é trazido como revelação dada por um suposto profeta. Deus
ainda pode nos trazer revelações específicas e de forma pontual?
Sim, Ele é Deus e pode todas as
coisas. Mas isto seria exceção e não regra. Jamais seria uma prática
corriqueira, diária e presente em cada esquina como vemos nos dias atuais, ou
seja, “NEM TUDO QUE RELUZ É OURO”.
Se o desejo do seu coração é
ouvir a voz de Deus e conhecer a Sua Palavra Profética, esqueça os gritos
humanos e leia a Bíblia. Lá você encontrará a perfeita revelação do Criador
para o homem de todas as épocas!
Pr. Reinaldo Ribeiro
Pb. João Placoná