Um
assunto que deve ser de grande cuidado nas assembleias dos irmãos,
principalmente naquelas em que muitos vieram do sistema denominacional, é o
dinheiro. Os costumes das chamadas "igrejas" não devem ser nosso
padrão, e sim o que ensinam as Escrituras.
Quando
digo que o dízimo não se aplica à Igreja, isto não significa que não existam
ofertas para cobrir as necessidades dos santos. Existem e todo salvo por Cristo
deve estar exercitado em dar.
O
motivo para dar pode ser encontrado em 2 Coríntios 8:9, que diz: "Porque
já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós
se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.". O Senhor deve
ser sempre nosso modelo e motivo de agir, e ele não deu parte do que possuía,
mas deu tudo, até a própria vida por nós.
Se
tivermos a Cristo como nosso principal motivo ou o que nos move a ofertar,
teremos aquilo que Paulo chamou nos Coríntios de "a prontidão do vosso
ânimo" e de seu "zelo [que] tem estimulado muitos" (2 Co 9:2).
Mas
este mesmo versículo, que mostra que havia "prontidão" e
"zelo" também diz que "a Acaia está pronta desde o ano
passado". A região da Acaia, na Grécia, era onde ficava Corinto, então
aparentemente já fazia um ano que estavam capacitados a colaborar com os irmãos
pobres de Jerusalém, mas faltava o senso de urgência de colocar isso em
prática. Entenderemos melhor se lermos no capítulo anterior que "assim
como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento" (2 Co 8:11).
O
estímulo que Paulo utiliza para animá-los a ofertar é o exemplo dos crentes da
Macedônia: "Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às
igrejas da Macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância do seu
gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade.
Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu
poder, deram voluntariamente. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a
graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não
somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao
Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus." (2 Co 8:1-5).
Repare
que eles davam não por serem ricos, mas pela generosidade que tinham mesmo em
sua pobreza, pois davam acima de seu poder e voluntariamente, ou seja, ninguém
ficava insistindo para que contribuíssem.
Que
vergonha é hoje vermos pregadores insistindo e constrangendo seus seguidores a
contribuírem para eles próprios viverem em riquezas. Mas repare que macedônios
"se deram primeiramente ao Senhor", e daí a importância de termos o
Senhor como motivo de nosso desejo de ofertar.
Para
contextualizar o que Paulo diz, lembre-se de que Filipos ficava na Macedônia e
ele está aqui se referindo a esses irmãos aos quais escreveu a "Carta aos
Filipenses". Ali Paulo conta de como ele próprio havia sido auxiliado por
esses irmãos que, embora sendo pobres, abundavam em graça para com o apóstolo e
os santos necessitados. Paulo usa o exemplo dos irmãos pobres da Macedônia para
estimular a generosidade dos irmãos ricos de Corinto. Aos filipenses (ou
macedônios) ele escreveu:
"E
bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti
da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber,
senão vós somente; porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a
Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a
vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou,
depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como
cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus. O meu Deus,
segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por
Cristo Jesus." (Fp 4:15-19).
Mas
de maneira nenhuma o apóstolo fazia isso para constrangê-los, pois ele deixa
muito claro que "cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com
tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria",
lembrando que "Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a
fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa
obra; conforme está escrito: 'Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece
para sempre'. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para
comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça;
para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência" (2 Co 9:7-11).
Para
que ninguém se limitasse a pensar que ofertando estaria apenas suprindo as
necessidades dos irmãos mais pobres, Paulo deixa claro que a oferta teria
resultados muito mais amplos e elevados pois geravam um espírito de gratidão e
glória a Deus. O apóstolo termina o capítulo trazendo à lembrança que Deus nos
deu o seu "dom inefável", a dádiva mais preciosa de todas, seu
próprio Filho, sendo assim Deus o maior dador de todos e o melhor exemplo de
generosidade que poderíamos ter.
"Para
que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se
deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as
necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a
Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela
submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de
vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração por vós, tendo
de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. Graças a
Deus, pois, pelo seu dom inefável." (2 Co 9:11-15).
Nas
denominações a maior ênfase é dada ao dízimo emprestado do judaísmo, que tem
por objetivo cobrir principalmente os custos da instituição com alugueis,
empregados (inclusive o pastor, quando este é remunerado), envio da parcela da
franquia para a "igreja sede" (sim, muitas denominações neopentecostais
funcionam no sistema de franquia), obras sociais e educacionais, e outras
obrigações. Numa denominação católica ou protestante o dízimo seria, por assim
dizer, o que cobriria os "custos fixos".
Para
custos eventuais são inventadas outras formas de se coletar dinheiro, como
quermesses (principalmente nas católicas), eventos esportivos, eventos sociais,
empenhos, reforma do "templo", visita de pregadores, shows de bandas,
cantores e humoristas, missionários, testemunhadores profissionais e outras
despesas que não se encaixem nos "custos fixos".
Isso
dá margem a sempre estarem incentivando contribuições extraordinárias, e por
isso um incrédulo que eu tentava evangelizar estava resistente, pois visitou
uma determinada igreja neopentecostal onde o pastor ficou exatos quarenta e
cinco minutos pedindo dinheiro.
Mas,
deixando de lado o mundo religioso denominacional e voltando ao nosso foco que
é a igreja congregada somente ao nome do Senhor como ensina a Bíblia, o que
encontramos na doutrina dos apóstolos a respeito das coletas e da destinação
dos recursos coletados?
Para
quem entende o lugar que o dízimo tinha na antiga ordem de coisas para Israel,
não preciso explicar que o dízimo não existe na doutrina dos apóstolos dada à
Igreja que, ao contrário do que pensam os seguidores da Teologia do Pacto, não
é um Israel 2.0.
Então
não adianta procurar no Antigo Testamento, ou mesmo nos Evangelhos que ainda
era judaísmo, a maneira de agir neste sentido. O que temos de instruções para a
igreja ou assembleia são as coletas, e elas trazem algumas características:
"Ora,
quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei
às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte
o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as
coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas
aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém." (1 Co 16:1-3).
Primeiro,
a coleta é feita "para os santos", ou seja, ela não tem por objetivo
pagar salários de pastores, pregadores, missionários, cantores, ou seja lá quem
for.
As
necessidades dos santos podem incluir tanto os custos de um lugar para
congregarem, como todas as outras necessidades, inclusive pessoais de algum
irmão ou irmã que esteja passando por uma enfermidade ou dificuldade financeira
causada por desemprego, por exemplo.
Inclua-se
aí o auxílio aos que se dedicam à obra do Senhor, mas não como assalariados,
mas como aqueles que rogam ao Senhor por recursos e o Senhor atende, por ajuda
eventual e espontânea da assembleia ou de crentes individualmente.
Em
segundo lugar aprendemos que a instrução para a coleta era a mesma que o
apóstolo dava em todos os lugares, daí ele dizer "fazei vós também o mesmo
que ordenei às igrejas da Galácia". Não era uma questão de uma assembleia
ter seu próprio modo de agir, mas de uma ordem dada a todas.
O
terceiro ponto é que as coletas eram feitas "no primeiro dia da
semana", ao qual chamamos de Domingo, portanto cabia à assembleia
encontrar nesse dia o melhor momento para fazer a coleta. Na maioria das
assembleias que conheço a coleta é feita logo após a ceia do Senhor, na própria
reunião do partir do pão.
Darmos
nossa oferta logo após lembrarmos que Deus deu o seu "dom inefável" é
estímulo mais do que suficiente para expressarmos nossa gratidão pelo que
recebemos.
Quarto,
vemos que a responsabilidade era individual: "cada um de vós ponha de
parte o que puder ajuntar", indicando a importância do exercício
individual. Às vezes um casal pode preferir que apenas o marido coloque a
oferta na coleta, mas isso não é uma regra. A esposa, mesmo aquela que não
trabalha fora de casa, pode querer ter o exercício e o privilégio de fazer sua
parte, e isso deve ser combinado entre marido e mulher.
Meus
filhos quando começaram a participar da ceia ofertavam na coleta mesmo quando
ainda não trabalhavam para ganhar seu sustento, pois recebiam dos pais dinheiro
para suas necessidades. Considero esta uma boa maneira de ensinar aos filhos o
desprendimento, pois nesse exercício irão separar para ofertar para o Senhor
tirando daquilo que poderiam gastar com suas próprias necessidades.
A
ordem para que "ponha de parte o que puder ajuntar", e em outra
versão acrescenta "em casa", nos ensina que não é uma boa ideia abrir
a carteira na hora da reunião para contar as notas que pretende ofertar. Isso
já deveria ter sido decidido em casa e colocado em lugar separado no bolso, na
carteira ou na bolsa.
A
continuação diz para que a oferta seja "conforme a sua prosperidade",
o que equivale dizer que não faria sentido alguém dar dinheiro emprestado ou
ficar devendo na padaria para gastar na oferta.
Algumas
denominações agora oferecem até a possibilidade de se fazer ofertas com cartão
de crédito para só pagar o banco no mês seguinte, o que não significa ofertar
segundo a prosperidade, mas segundo um empréstimo, isto é, ofertar com um
dinheiro que não é seu na tentativa de ludibriar o Senhor.
Também
não seria correto ofertar com cheque ou de uma forma que identifique a pessoa
que está ofertando. Aprendemos dos evangelhos que "quando tu deres esmola,
não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita" (Mt 6:3), e entendo
que apesar de ali não falar da Igreja, mas do modo de proceder no reino, o
princípio de se ofertar anonimamente se aplica também na coleta.
No
capítulo 6 de Atos e também de 1 Timóteo temos instruções para a escolha de
diáconos, que são irmãos que cuidam das necessidades materiais da assembleia.
Os
anciãos, também chamados bispos ou presbíteros, atuavam como supervisores do
rebanho e não eram eleitos pela assembleia, e sim pelos apóstolos ou seus
delegados quando ainda estavam na terra.
Mas
os diáconos são escolhidos pela assembleia para lidarem com necessidades
materiais, e os critérios do capítulo 6, tanto em Atos quanto em 1 Timóteo,
devem ser considerados nessa escolha.
Depois
de feita a coleta são eles que irão contar o dinheiro, registrar em um livro e,
numa outra ocasião e em conjunto com irmãos responsáveis que cumprem o papel de
anciãos (embora não eleitos como no tempo dos apóstolos), irão analisar a
destinação daqueles recursos.
Tudo
isso é feito sempre no plural, ou seja, nunca um único irmão deve ficar
encarregado da contagem e destinação dos recursos. Deve sempre ser ajudado por
um ou dois que sirvam de testemunhas, como em todas as decisões na assembleia.
Repare
que, apesar de sua autoridade apostólica, não é o apóstolo quem decidia quais
irmãos iriam levar os recursos para os irmãos pobres de Jerusalém, e sim
aqueles — e repare que aqui é plural — que tivessem sido aprovados pela
assembleia: "E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas
aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém. E, se valer a pena que eu
também vá, irão comigo." (1 Co 16:3-4).
Apesar
de aqui falar de uma coleta que estava sendo feita com um objetivo definido,
que eram os irmãos pobres de Jerusalém, ainda assim era uma coleta feita no
primeiro dia da semana na reunião dos santos.
Não
era um evento extraordinário feito fora da ordem determinada para a coleta.
Não
era um pedido extra, não era uma entrega de dinheiro a um irmão apenas, não era
um sorteio, rifa ou quermesse para obter recursos.
Era
a própria e regular coleta feita nas reuniões da igreja. Exceto quando se trata
de uma contribuição direta de um irmão a outro que está necessitado, enfermo ou
que trabalha na obra do Evangelho, é por meio da coleta que os recursos são
obtidos pela assembleia.
Isto
nos leva a outra questão importante. Sempre que existirem eventos
extraordinários, como uma necessidade grave de um irmão, ou um evento como
planos de uma conferência no horizonte, ou qualquer coisa que saia das
necessidades regulares, não se deve criar uma coleta à parte. O que se deve
fazer é informar a assembleia das necessidades, e deixar que os irmãos tenham
seu exercício praticado na coleta.
Se
alguém quiser visitar o irmão doente, desempregado ou um que vai viajar na
obra, e dar a ele diretamente um valor para suas necessidades, isso é um bom
exercício pessoal, mas é uma questão particular e não da assembleia.
O
que insisto é que não se pode obrigar a assembleia, como um todo, a fazer
contribuições extraordinárias. O que se faz é informar os irmãos das
necessidades e estimular todos à oração, aguardando o Senhor mover corações e
prover para as necessidades.
Devemos
nos lembrar de que nem sempre temos, individualmente, sabedoria nessas
decisões, pois podemos ser movidos por interesses pessoais ou laços afetivos e
termos nossa visão turvada demais para enxergar se algo é ou não necessário e
urgente.
Cabe
lembrar que a assembleia não é uma entidade beneficente, isto é, não existe
para resolver o problema da pobreza no mundo.
Dentro
do mundo religioso as igrejas costumam constituir uma entidade beneficente
porque isso atrai ajuda governamental e doações de empresas. Mas a assembleia é
para os irmãos congregados, e seus recursos são destes e para estes, não para
fazer caridade em geral.
Cada
crente individualmente pode ter esse exercício em seu coração e ajudar onde
quer que encontre uma necessidade, mas sempre lembrando da exortação:
"Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos
domésticos da fé" (Gl 6:10).
Cabe
ainda lembrar que a palavra "igreja" significa os que foram tirados
para fora, e é esta a posição que temos agora como tirados do mundo e de seus
sistemas. Então algumas passagens nos ajudam a entender que jamais a assembleia
deve receber a colaboração de incrédulos.
Muitas
instituições no mundo religioso não têm qualquer pudor neste sentido e acabam
se envolvendo com lavagem de dinheiro ou simplesmente ficam reféns de políticos
e empresas pelas quais foram ajudadas.
Portanto,
nada de envelope com o nome dos ministros da Igreja e pregações demoradas sobre
o “dízimo”, citando Malaquias 3:8 - “Pode um homem roubar de Deus? Contudo
vocês estão me roubando....” com o claro propósito de intimidação.
Nada
de apelos para que os ofertantes venham à frente com 50,00, 100,00, 200,00,
500,00 ou 1.000,00 dizendo que “DEUS” vai abençoar com isto ou aquilo aos
ofertantes... Isto é simplesmente uma extorsão; além é claro de usar o Santo
nome de Deus em vão.
Mario Persona
João Placoná