O suicídio, o homicídio, tem perdão?
Embora a Bíblia não fale
claramente sobre o pecado do suicídio, ela diz que matar, não importando quem,
é um dos mais graves crimes contra a humanidade, uma aberta violação contra o
sexto mandamento de Deus, pois o homem foi feito para viver, não morrer.
O suicídio é um crime tão grave
quanto o homicídio por assassinato, pois quando alguém, por vontade própria,
tenta tirar a sua vida, está destruindo em si a imagem do Criador, o doador da
vida.
O problema é que, muitas vezes,
nós vamos além no nosso julgamento, e julgamos as motivações que levam uma
pessoa a pecar, sem conhece-las.
Quando fazemos isso, entramos em
um terreno arriscado, e nos colocamos no lugar de Deus, o único que conhece as
motivações de cada coração.
Não estamos diminuindo a
gravidade do pecado ao dizer isso. Mas, ao julgar se as motivações eram
legítimas ou não para alguém cometer suicídio, corremos o risco de rotular,
taxar essa pessoa como perdida para sempre nas mãos de Satanás.
Dizer que não há perdão para
suicídio é uma falácia. Ao nos depararmos com algo tão triste, precisamos
faze-lo com muito cuidado e respeito, e não emitir nenhum veredicto, porque a
graça de Deus vai muito além de onde nossa mente limitada e pecadora consegue
chegar.
A Bíblia fala de pessoas que
tiraram a sua vida, como Saul, que se viu sem saída na batalha contra os
filisteus. Saul tomou sua espada e se matou (1 Samuel 31:1-5).
Outro triste fato registrado na
Bíblia é o de Judas que, vendo Jesus ser condenado sem reação contra seus
opressores, se encheu de remorso. Considerando seu caso perdido, amarrou uma
corda em seu pescoço e tirou sua vida.
O Que a Bíblia Diz Sobre
Homicídio? Deus Perdoa?
A Bíblia diz que o homicídio é um
pecado muito grave. O homicídio é a quebra do sexto mandamento, no qual Deus
ordena: “Não matarás” (Êxodo 20:13). O termo hebraico traduzido como “matarás”
significa literalmente “assassinarás”.
O assassinato é fruto da
pecaminosidade e depravação humana. A morte foi determinada por Deus por causa
do pecado do homem (Gênesis 2:17). Adão e Eva cederam ao tentador e
transgrediram a Lei de Deus. Por isto também Satanás é identificado por Jesus
como aquele que é assassino desde o princípio (João 8:44).
O primeiro homem a ser um
assassino foi Caim. Movido por um tipo de ódio invejoso, ele assassinou seu
próprio irmão, Abel. O apóstolo João enfatiza a associação de Caim com Satanás,
dizendo que ele era do Maligno. O mesmo apóstolo usa esse episódio para
explicar que qualquer pessoa que possui um espírito de ódio como o de Caim, é
de fato um assassino (1 João 3:15).
A punição bíblica para o
homicídio
Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança. Essa designação revela a dignidade da vida humana, pois neste
aspecto, todos os homens são representantes da imagem de Deus. Quando alguém
comete um homicídio, ele não apenas coloca um fim na vida humana, mas também
comete um atentado contra a imagem do próprio Deus representada na vítima.
Além disso, o homicídio é uma
afronta à autoridade divina. A Bíblia diz que somente Deus é quem pode dar a
vida e tomá-la (1 Samuel 2:6). Depois de Caim, rapidamente a prática do
homicídio passou a ser muito frequente na humanidade. Como uma forma de refrear
essa prática abominável, Deus instituiu a pena de morte para os homicidas
(Gênesis 9:6).
Com isto, Deus autorizou o governo
humano a aplicar a pena de morte como justa punição aos assassinos (Números
35:33; João 19:10; Romanos 13:1-4). Portanto, do aspecto bíblico, esse severo
castigo serve como instrumento da justiça e proteção à dignidade da vida.
Mas a Bíblia não vê todos os
tipos de homicídios da mesma forma. Biblicamente também existe a distinção
entre homicídio com dolo e sem dolo. Vejamos melhor a seguir.
Tipos de homicídios na Bíblia
As informações mais detalhadas
sobre os diferentes tipos de assassinatos, podem ser vistas principalmente na
Lei Mosaica. Em seu aspecto civil, essa lei servia para regulamentar a vida de
Israel como nação, esclarecendo regras sociais e criminais.
Então nos tempos bíblicos, diante
de um caso de homicídio, era necessário que se distinguisse se o assassinato
havia sido intencional ou não intencional. Para tanto os magistrados levavam em
consideração algumas coisas, como por exemplo, o relacionamento pré-existente
entre os envolvidos e o instrumento do crime (cf. Números 35:16-20; Deuteronômio
19:11-13).
Comprovada a culpa num homicídio
doloso, o criminoso era sentenciado a pena capital sem direito a qualquer
recurso. Já quando provado que o homicídio havia sido não intencional, a pessoa
não era condenada à morte, mas devia fugir para uma das cidades de refúgio onde
ficava protegido de qualquer eventual vingança (cf. Êxodo 21:12-14; Levítico
24:17; Números 35:9-15; Deuteronômio 9:1-13).
Já durante uma guerra, matar um
inimigo não era considerado um assassinato doloso. Todo o contexto bíblico do
Antigo Testamento confirma o direito de uma nação se defender diante de uma
ofensiva inimiga. Isto valia, inclusive, para grupos étnicos dentro de um
território estrangeiro, assim como ocorreu com os judeus no tempo de Ester
(Ester 9:1-10).
O mesmo também pode ser dito de
uma morte em legítima defesa, que não constituía um assassinato (Êxodo 22:2). A
Lei Mosaica também tratava de um caso de morte bastante específico, quando um
animal feroz, por negligência de seu dono, acabava matando uma pessoa. Nesse caso
o animal deveria ser sacrificado e o dono seria culpado de assassinato, ficando
inclusive sujeito a pena de morte (Êxodo 21:29-32).
A culpa de um homicida não recaía
sobre seus filhos, a menos que eles também participassem deliberadamente do
crime (cf. Deuteronômio 24:16). Por fim, toda uma nação poderia se tornar
culpada de assassinato, assim como ocorreu no caso da crucificação de Jesus
(Atos 7:52; cf. Mateus 27:25).
Deus perdoa homicídio?
As Escrituras falam sobre o
tamanho da gravidade do pecado de homicídio de uma forma muito clara. Os
homicidas não têm lugar no reino de Deus, assim como os demais culpados de
outros tipos de pecado (Apocalipse 21:8).
Mas, com relação à salvação
eterna, qualquer pecado, mesmo que pareça ser o “menor” de todos eles, já é
suficientemente capaz de privar o homem da comunhão com Deus e fazê-lo
merecedor de sua ira. É por isto que a salvação é pela graça de Deus.
O pecador encontra o perdão de
seus pecados na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Pelos méritos de Cristo,
o homem injusto é justificado por Deus.
Mas algumas pessoas perguntam:
Deus perdoa o homicídio?
Seria o assassinato um pecado
grande demais para que receber o perdão de Deus?
Será que entre os pecados
expiados por Cristo estavam, inclusive, casos de assassinato?
A Bíblia definitivamente diz que
o único pecado que é imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Não
porque esse tipo de pecado supera o perdão de Deus, mas porque se trata da
apostasia, e o apostata rejeita deliberadamente justamente Aquele que é o único
capaz de perdoar os pecados.
Portanto, Deus, através da obra
de seu Filho, perdoa o terrível pecado de homicídio. Sim, entre aqueles a quem
Cristo redimiu na cruz, certamente estão muitos assassinos.
Na Bíblia, Paulo de Tarso é um exemplo
claro disso. Antes de ser regenerado pelo Espírito Santo, Paulo respirava
ameaça de morte contra os seguidores de Cristo (Atos 9:1). Ele assolava e
perseguia a Igreja de Deus (Gálatas 1:13). No entanto, pela graça soberana do
Senhor, de perseguidor ele foi transformado em perseguido pela causa do
Evangelho.
Porém, apesar de Deus perdoar o
pecado de homicídio, isto não significa que a pessoa deva ficar livre das
consequências e implicações de seu ato.
Sob este aspecto, no que diz
respeito a consequência e punição, existem diferentes graus de pecado. A
história de Davi revela essa verdade. Ele foi culpado pela morte de Urias. Após
ter sido repreendido por Deus, o rei se arrependeu e foi perdoado. Porém, as
consequências de seu pecado não foram retiradas (2 Samuel 12).
Daniel Conegero
Pb. João Placoná