domingo, 11 de outubro de 2015

Saudades dos bons tempos da Igreja Evangélica










De alguns bons anos para cá a pregação centrada nas Escrituras começou a se tornar cada vez mais rara nos púlpitos dos grandes eventos.

Tem diminuído significativamente o número dos expoentes itinerantes da Palavra do Senhor, enquanto aumenta de modo considerável, a quantidade de pregadores malabaristas, animadores de auditório e milagreiros.

Creio que, em decorrência do falecimento de alguns expoentes que tinham um ministério itinerante e da queda espiritual de outros, durante a última década do século XX, houve um certo vazio no púlpito dos eventos de grande porte que exercem forte influência sobre os obreiros mais jovens e a lacuna demorou a ser preenchida.

Como resultado disso, “conferencistas internacionais”, verdadeiras celebridades, passaram a substituir os expoentes da Palavra de Deus, homens chamados verdadeiramente pelo Senhor para exercer um ministério itinerante e compromissados com a sã doutrina.

Hoje o modelo que encanta multidões ainda é o da pregação interativa, no melhor estilo “diga isto e aquilo para o seu irmão”, com pouquíssima exposição bíblica e malabarismos de sobra.

Prioriza-se a forma, em detrimento do conteúdo, o espetáculo, com detrimento da mensagem; o desempenho do pregador, em detrimento da eficácia da Palavra de Deus; o carisma em detrimento do caráter.

Enfim, a pregação do século XXI, em geral, é muito mais antropocêntrica do que cristocêntrica. E, como conseqüência disso, muitos crentes já não suportam a explanação da viva e eficaz Palavra do Senhor.

A pregação sem modismos é encarada como simples demais e enfadonha para esses tempos pós-modernos.

Os novos convertidos, por falta de ensino da são doutrina, querem movimento, animação, berros prolongados ao microfone, exibição teatral, entretenimento, etc.

A exposição verdadeiramente ungida das Escrituras perdeu a primazia. E quem critica a pregação interativa é considerado retrógrado, ultrapassado, invejoso, sem unção, inimigo do “mover de Deus” e cético. São tantos e tantos adjetivos...

Pois bem! Podem nos chamar de saudosistas, mas:

Houve um tempo em que os crentes gostavam de orar. Nessa época eles murmuravam pouco, por falta de tempo e de oportunidade e não perdiam nenhum ensejo para apresentar sua adoração, sua oração e sua intercessão diante do Trono do Pai.

Houve um tempo em que os cultos não eram um espetáculo, senão um cenáculo espiritual.

Houve um tempo em que os pastores se dedicavam à leitura da Palavra. Eles não se envolviam com política, nem secular nem eclesiástica. Eles não viviam obcecados por títulos e cargos, quer na sua comunidade, quer no âmbito nacional.

Houve um tempo que as Convenções eram convocadas para que os obreiros mais jovens ouvissem estudos bíblicos e experiências notáveis dos mais antigos, e assim eram fortalecidos e robustecidos: na fé e no ministério. Nesse tempo, ir a uma reunião convencional era um grande sonho, uma ardente paixão, um negócio de Deus.

Houve um tempo em que os presidentes não eram ditadores e os líderes não eram senhores de engenho. Todos viviam mergulhados no mar da graça misericordiosa do Senhor Jesus.

Houve um tempo a Casa de Deus não parecia com um sindicato, por ser exatamente uma assembléia dos santos.

Houve um tempo em que não havia nas igrejas círculo de oração, porque todos os crentes oravam, e não apenas uma meia-dúzia de irmãs abnegadas e de total renuncia.

Houve um tempo em que os jovens crentes não se enamoravam de senhoritas ímpias e assim o vírus do jugo desigual não se inoculava nos arraiais dos santos.

Houve um tempo em que não se cantava nem se pregava por dinheiro e assim a inspiração fluía sem tropeços, o púlpito não era balcão de barganhas e nem de aplausos para homens, porque o louvor se destinava exclusivamente a Deus.

Houve um tempo em que os cultos não eram shows, os ministros não eram artistas e os santos de Deus não eram galera.

Houve um tempo em que os compositores de hinos não eram sacoleiros, os cantores não tinham empresários e os pregadores não eram galãs.

Houve um tempo em que os crentes não deixavam de ir aos cultos por causa das novelas, as crianças não deixavam de ler a bíblia por causa dos videogames e os adolescentes não deixavam de jejuar por causa das lan-houses, dos facebooks, dos WhatsApps.

Houve um tempo em que jovens crentes se respeitavam mutuamente e deixavam as práticas de intimidade sexual para depois da cerimônia de matrimônio no altar sagrado.

Houve um tempo em que as moças crentes casavam virgens, os rapazes crentes eram abstinentes e os motéis não eram jamais por eles visitados.

Houve um tempo em que falar mal dos pastores era abominação e ser infiel a Deus era apostasia.

Houve um tempo em que se pregava a misericórdia, o perdão, o arrependimento e o juízo de Deus.

Houve um tempo em que a letra sacra dos hinos inspirados não era abafada pelo barulho ensurdecedor das baterias.

Houve um tempo em que os Congressos eram selados com batismo com o Espírito Santo e não com jogo de luzes, bem ao estilo Hollywood.

Houve um tempo em que não se pagava para ir a um evento evangélico, porque os pregadores e cantores não eram artistas.

Houve um tempo em que "os mais belos hinos e poesias foram feitos em tribulação" e os que os apresentavam ao público jamais sonharam comparadas de sucesso.

Houve um tempo em que ser pastor dependia basicamente de um chamado, uma vocação, um compromisso e um testemunho público perante a Noiva do Senhor Jesus.

Houve um tempo em que os itinerantes, especialmente aqueles que nunca pastorearam, respeitavam os pastores e se maravilhavam com o seu difícil e árduo labor.

Houve um tempo em que ganhar almas era um dever de cada membro da Igreja e excluir um membro da Igreja era uma tarefa dolorosa, sempre recebida com muita tristeza e temor.

Houve um tempo em que os pastores de Jerusalém não excluíam os membros dessa igreja porque visitaram a de Antioquia.

Houve um tempo em que mentir era pecado em qualquer lugar. Na Casa de Deus, então, era totalmente inaceitável.

Houve um tempo em que os líderes se respeitavam e se amavam; não se devoravam mutuamente.

Houve um tempo em que os peixes eram buscados lá fora, em alto mar, e não no aquário do vizinho mais próximo.

Houve um tempo em que as congregações não eram agências de empregos, isto é, não se oferecia vantagens para quem a elas aderisse.

Houve um tempo em que não se trocava um cartão de membro em uma igreja por uma vaga no diaconato noutra.

Houve um tempo em que rebelião não era algo chic. Era uma ofensa profunda à santidade de Deus e quem a praticava era dito pertencer a Satanás, o pai de todas as rebeliões.

Houve um tempo que as senhoras idosas não ensinavam as mais jovens a desobedecerem a seus maridos e assim as famílias eram mais estáveis.

Houve um tempo em que, no ato do convite para a salvação, não se chamava os pecadores de irmãos, e, sim, de amigos.

Houve um tempo em que ser humilde não estava fora de moda e ser simples não merecia agressões.

Houve um tempo em que ser fariseu soava estranho na Casa de Deus e jamais se veria ao menos um deles ser condecorado.

Houve um TEMPO em que jamais se sonhava que haveria OUTRO, tão diferente dele, que nem se poderia imaginar.

Pr. Ciro Zibordi
Pr. Geziel Gomes
Pb. João Placoná