sábado, 9 de dezembro de 2017

Batismo, Divórcio, Ceia: O que pode e o que não pode.











O batismo bíblico requer o candidato qualificado. O sangue antecede a água. A salvação se dá primeiramente. Eu não ensino que o batismo é essencial para a salvação, pelo contrário, que a salvação é essencial ao batismo.

João pediu uma qualificação dos que ele batizou: Mt 3.8, “Produzi pois frutos dignos de arrependimento.” Não frutos dignos de emoção, inteligência ou filosofia, mas de arrependimento. Uma mudança radical de mente e atitude, de coração ao respeito do pecado e de Deus é necessária.

Jesus explicou que quem deve ser batizado são os crentes: Mc 16.16, “Quem crer e for batizado….mas quem não crer”.

O exemplo bíblico dos que foram batizados no Novo Testamento foram os que primeiramente justificaram a Deus: At 2.41, “…foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra;…”; Gl 3.27, “todos batizados … já vos revestistes de Cristo.”; Eunuco (At 8.36-38); Coríntios (At 18.8); (Éfeso) At 19.1,5.

Portanto, não importa se você chega para o batismo trazendo um divórcio nas costas. O seu passado perde efeito perante a justiça de Cristo, que mediante nosso sincero arrependimento, nos limpa de toda mácula. Logo, não vejo problemas em batizar um divorciado, se ele chegou a mim convertido a Cristo de todo seu coração.

De acordo com a Bíblia, se você é salvo, você pode tomar a Ceia. Cada um deve examinar a si mesmo antes de participar da Ceia.

Jesus instituiu esta ordenança para que seus seguidores se lembrassem sempre de seu sacrifício na cruz (Lucas 22:19-20). Não podemos nos esquecer da importância da morte de Jesus por nossos pecados.

Tomar a Ceia do Senhor é dizer que você reconhece que Jesus morreu por seus pecados e que agora você faz parte de sua família.

Para o descrente não faz sentido nenhum participar da Ceia. A Ceia do Senhor não é apenas um ritual cultural, é uma declaração de fé. Por isso tomar a Ceia sem crer é desrespeito.

Algumas igrejas, no meu ponto de vista acertadamente, apenas permitem que pessoas batizadas participem da Ceia. Isso acontece porque quando uma pessoa é batizada, ela reconhece publicamente que aceitou Jesus como seu salvador. As igrejas assumem que quem não está pronto para se batizar ainda não fez um compromisso sério de seguir Jesus.

Diante disso, considerando que o divórcio não é um pecado eterno e nem imperdoável, eu não vejo problema algum para que quem já se arrependeu deste ato lá atrás e entregou verdadeiramente sua vida a Jesus, venha e participe da Mesa do Senhor.

Lembremo-nos que Jesus não veio chamar justos, mas pecadores ao arrependimento. Lucas 5:32.

E quanto à possibilidade de pastores divorciados ministrarem o batismo e a ceia, seria isso lícito?

A resposta é rápida e simples: NÃO! E porque digo isso? Porque a Bíblia os considera neste caso repreensíveis para o ministério pastoral. Darei aqui os motivos para isso.

Em primeiro lugar porque Ele passa a NÃO ser um exemplo dos fiéis. Em I Tim. 4:12, Paulo exorta ao pastor Timóteo para que seja “…o padrão (exemplo) dos fiéis…” O homem que está no segundo, ou até no terceiro casamento, não pode ser exemplo dos fiéis, por não ser esta a vontade de Deus para o seu povo: Ele odeia o divórcio (Mal. 2:16). Os jovens de tal igreja estariam automaticamente, levantando a possibilidade de os seus futuros casamentos, se não derem certo “como o do pastor”, o divórcio seria uma opção e ainda Deus os estaria ainda abençoando após algumas “tribulações…” Desastroso exemplo seria também para os que entrarão ou já estão no ministério pastoral.

O Cristianismo verdadeiro não segue o lema de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Paulo disse “sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Cor. 3:15). O ministério pastoral não é para qualquer um, mas para os que têm condições morais de dar exemplo (Heb. 13:7).

Em segundo lugar porque deixa de ser um líder irrepreensível. Em I Tim. 3:2 temos as qualificações para o pastor: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível…” A palavra traduzida por irrepreensível usada no texto acima é do grego “anepleptos”. Ela aparece 3 vezes no Novo Testamento, a saber: I Tim. 3:2, 5:7 e 6:14.

O significado é sempre o de alguém de quem não se pode falar nada contra, sem mancha, sem culpa, inacusável. Independente de ser ou não o causador do divórcio (se é que existe tal condição), o homem que passou por esta experiência não se encaixa nas exigências bíblicas, e será usado pelo diabo para escandalizar e envergonhar o Evangelho.

Existe “pastor” que se casou em rebeldia contra os conselhos dos pais, de amigos e até de seus pastores atraindo as maldições do Senhor. Tal flagrante violação da vontade de Deus, tornou tal crente o único responsável pela falência do seu próprio casamento, desqualificando-o de uma vez por todas, para o exercício do pastorado.

Em terceiro lugar porque se for divorciado ele não é mais marido de uma só mulher. “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher…” (I Tim. 3:2). A expressão “marido de uma mulher” significa muito mais do que o leitor superficial possa imaginar e não é como alguns afirmam equivocadamente “uma esposa de cada vez”.

Ora, isso seria um convite e uma motivação para vários casamentos, e não penso que a Palavra de Deus concorda com esta teoria. O ensino é que a mulher com quem o bispo, pastor é casado é a sua primeira e única!

Não tem nada a ver com a condenação de relacionamentos simultâneos, o que seria adultério. Entretanto, existe uma linha de interpretação aqui defendida por muitos, que situa esta orientação baseado numa suposta condenação da poligamia. Penso que seria um absurdo tão redundante e flagrante o pecado da poligamia que Paulo não precisaria se referir a ela para uma pessoa especial como o bispo.

O que realmente está em jogo aqui é a conduta ilibada e irrepreensível do pastor no seu relacionamento singular com a sua primeira esposa.

Em algumas versões bíblicas, o texto fica ainda mais claro e aparece assim: É preciso, porém, que o dirigente seja irrepreensível, esposo de uma única mulher… ou ainda, diz: É, porém, necessário que o pastor seja irrepreensível, que não tenha sido casado senão uma vez…

Por fim, eu entendo que ele fica desqualificado porque perde a autoridade no aconselhamento. Como um pastor divorciado poderá aconselhar um casal que está com problemas no casamento?

Com que autoridade ele dirá para lutarem pelo seu casamento, para se perdoarem e buscarem a reconciliação se ele mesmo não conseguiu fazer isso?

Como esse pastor aconselhará um jovem casal prestes a se casar orientando-os que o casamento é um compromisso até a morte se ele mesmo não cumpriu isso?

Não tem jeito, o Cristianismo não funciona segundo palavras vazias, mas com exemplo de vida. Mesmo que o homem não tenha se casado novamente, a situação de separação da primeira esposa já o desqualifica para o pastorado, pois não conseguiu, falhou, fracassou em “governar sua própria casa”.

Sobre casais que vivem maritalmente, não possuem uma certidão de casamento ainda, poderiam os tais descer às águas e participar da Mesa do Senhor?

É do conhecimento de todos que eu prego prudência e sabedoria no trato com essa questão. Cada caso precisa de um exame minucioso por parte do pastor. Algumas circunstâncias podem gerar uma liberação.

Por exemplo, eu não posso punir uma serva de Deus fiel ao Senhor e de testemunho ilibado, que não seja casada apenas pela imposição de seu companheiro incrédulo que recusa o matrimônio.

Entretanto, não posso condescender com um casal cristão, conhecedor da Palavra e frequente na igreja e que recusa por vontade própria contrair o casamento.

No primeiro caso eu batizo esta irmã, já no segundo caso eu não batizo o casal.

Também é importante lembrarmos que casamento não é um pedaço de papel. Casamento é uma relação estável, sólida, familiar, alicerçada em amor e compromisso e socialmente visível.

Há muitas pessoas detentoras de um papel, mas que não vivem isso. Ao passo que há outras que não possuem o papel, mas tem esta realidade reconhecida por todos. O pastor precisa observar isso também. Se a ausência de uma certidão de casamento implica que duas pessoas não sejam casadas, então quem não possui certidão de nascimento nunca nasceu.

Portanto, sejamos cuidadosos, criteriosos e justos nesta questão, pois não há regra fixa para ela, mas sim uma saída compatível com cada situação específica.

O tema também pergunta sobre o destino eterno dos que já estão divorciados. Estariam estes condenados por Deus e sem acesso à Sua salvação?

Biblicamente falando, todos sabemos que o matrimônio foi planejado para durar a vida toda. Todavia o divórcio é uma saída de emergência, o último recurso, no sentido de servir como um corretivo apenas para situações intoleráveis. Mesmo assim, não deixa de ser uma tragédia: sentimento de culpa, perda da autoestima, um agudo senso de ter falhado, solidão, rejeição, críticas dos familiares e dos irmãos em Cristo, problemas na educação dos filhos e uma série de outras graves consequências que são os resultados concretos que afligem os divorciados.

No entanto, a graça de Cristo é abundante para eles também. O divórcio não é um pecado imperdoável, Jesus sempre se identificou com os que sofrem e com os que, reconhecendo o seu pecado, confessam-no e o deixam. A igreja foi planejada para ser uma comunidade terapêutica, que cura as feridas e não que as fazem doer ainda mais.

Logo, eu não vejo o divórcio como uma sentença definitiva de condenação espiritual, mas como uma tragédia humana, que deve ser curada com arrependimento e fidelidade a Deus.

Moralizar ou flexibilizar? Voltar às nossas raízes ou cair na modernidade?

Eu tenho dito e repito aqui: a Igreja precisa de Bíblia e não de modas. Deus usa homens e não métodos. Precisamos de uma Reforma generalizada, do regresso à cruz de Cristo e do repúdio e da renúncia desse falso evangelho que usurpa a santidade da fé e transforma a igreja num circo de heresias e espetáculos horrendos.

A sequidão espiritual em que a Igreja se encontra tem como causa principal o abandono do evangelho. O neopentecostalismo com seus gurus arrogantes, suas feitiçarias lucrativas e o liberalismo teológico desembocaram no secularismo e a igreja perdeu seu fervor espiritual.

A efervescência espiritual fora da centralidade da Palavra de Deus também é um desvio, pois produz um emocionalismo vazio. O liberalismo como experiencialismo andam muito próximos, pois ambos rejeitam a suficiência das Escrituras. É por isso que temos tanto mundanismo dentro de nossas igrejas e tantos crentes iguais aos descrentes.

Precisamos voltar ao evangelho. Só existe um evangelho verdadeiro. É o evangelho de Cristo. É o evangelho da cruz. É o evangelho da graça. Qualquer outro acréscimo está em desacordo com a mensagem bíblica.

A igreja contemporânea precisa voltar-se para as Escrituras, precisa voltar ao primeiro amor, precisa de reavivamento e de restauração.

Pr. Reinaldo Ribeiro

Pb. João Placoná