sexta-feira, 18 de julho de 2014

Isto é Bíblico?

Está na Biblia

A resposta mais fácil pode ser a seguinte: “Se algo está na Bíblia, então é bíblico.” Mas isso significa que a poligamia, a escravidão e genocídio se encaixam nessa definição.

Outra abordagem é dizer que uma ideia ou prática é bíblica se condiz com os valores e com a natureza da Bíblia.

Provavelmente, essa é uma resposta mais significativa. Mas também apresenta seus próprios problemas.

Como podemos ter certeza de que estamos pensando e agindo de forma a expressar a essência e os propósitos da Escritura?

Vejamos, então, se podemos ter uma ideia do que seria preciso para sermos cada vez mais bíblicos enquanto tomamos cuidado para lembrar que ainda não chegamos a esse resultado.

Muitos de nós sabemos o quando é importante interpretar as palavras da Bíblia dentro de seu próprio contexto. Porém, pode ser até mais importante pensar sobre a contribuição de cada versículo da Bíblia para a história como um todo, a qual, por sua vez, dá significado a cada versículo.

Do Livro de Gênesis ao Livro de Apocalipse, os 66 livros da Bíblia são mais do que uma coleção de história religiosa, leis morais, provérbios, poesia e profecias.

Por detrás de cada palavra e de cada frase, há uma grande história de amor que dá coerência aos detalhes de um texto inspirado.

Esse grande drama em desdobramento passa da (1) maravilha da criação ao (2) desastre da rebelião humana a um (3) resgate histórico e, então, finalmente, a um (4) futuro dia da ressurreição, da prestação de contas e da restauração.

Neste enredo, há milagres, realismo, salvamento dos nossos piores problemas e uma esperança que está presente nos relacionamentos para os quais fomos criados.

De Moisés a Jesus, a Bíblia conta a história de um Criador que, por fim, revela-se como o Filho que deseja que conheçamos Seu Pai, e como um Pai que deseja que conheçamos Seu Filho. O Filho continua a dizer que, no fundo, Ele é exatamente igual a Seu Pai, que Seu Pai é exatamente como Ele.

As implicações desse relacionamento Pai-Filho foram abordadas na última ceia de Páscoa que Jesus realizou com os discípulos. Depois de ouvir por acaso seus amigos debatendo sobre qual deles seria o maior (Lc 22:24-26), Jesus levantou-se da mesa, pegou uma bacia com água e uma toalha e começou a lavar os pés de cada um (Jo 13:3-5). Então, perguntou: “Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lc 22:27).

Ao se ajoelhar para lavar os pés dos discípulos, Ele nos deu uma imagem clara de até onde Ele o Pai estavam dispostos a ir para mudar o nosso coração e os nossos relacionamentos.

Na mesma noite em que Jesus ouviu por acaso seus discípulos discutindo, ele lavou os pés deles e, depois, permitiu que ouvissem falar com Seu Pai.

Os discípulos de Jesus o ouviram orar não apenas por eles, mas também por todos os que viessem a crer nEle por meio do testemunho de seus discípulos (Jo 17:20).

Eles o ouviram orar da seguinte maneira: “...a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17:21).

Em seguida, Jesus pediu ao Pai que deixasse os que cressem nEle viver de tal forma que outras pessoas pudessem ver que Deus Pai as ama também assim como ama Seu Filho (Jo 17:23).

Poucas horas depois, o Filho de Deus nos deu o exemplo mais importante do quanto ele e o Seu Pai nos amam.

Ele se deixou ser sacrificado entre dois ladrões – para nossos pecados, em nosso lugar.

Em nenhum outro lugar o amor do Pai tem mais destaque e foco do que no sofrimento que o Filho se dispôs a suportar por nós. Mesmo assim, a história não acaba nesse ponto.

Após a ressurreição e a dramática volta de Jesus ao Seu Pai, seus discípulos continuaram a aprender o que significava ser fiel à história bíblica que estavam vivendo então.

Mesmo na ausência de Jesus, eles perceberam que não estavam sozinhos e começaram a descobrir, por conta própria, o que significava servir o próximo como o Senhor os havia servido. No Espírito e no poder que o Mestre tinha prometido, eles demonstraram coragem de amar de muitas maneiras que foram além do que era natural para eles.

Embora permanecessem bem distantes da perfeição, desenvolviam uma preocupação com o próximo que não estivera presente na noite que discutiram sobre quem seria o maior.

Mais de 2000 anos depois, um patriarca da igreja, de nome Tertuliano, escreveu sobre o que acreditava ser a evidência convincente da fé cristã. Ele se referiu às palavras que não cristãos disseram sobre os seguidores de Jesus: “Vejam como eles amam uns aos outros (Apologia 3.7, escrita no ano 197, a obra mais importante desse patriarca)”.

Finalizemos com esta oração:

“Pai celestial, perdoa-nos se chamamos de bíblico algo que não reflete a Tua essência e a Tua história, por favor, ajuda-nos hoje a cuidar dos outros de uma maneira que lhes permita ver Teu Filho em nós e a te ver nele. Oramos em nome de Jesus!”.

Mart DeHaan

Pb. João Placoná