quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Se Jesus fosse um crente moderno

"Eu vim não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." (João 6:38)

Quando eu me deparo com a caricatura de Deus tingida no mau testemunho do cristianismo pós-moderno, eu me concentro na certeza de que em meio às multidões que superlotam tantos templos, talvez não houvesse (e nem haja) um local decente para o Dono da Igreja. Pois se Jesus fosse um crente inserido nos padrões das visões e revelações atuais, Ele seria tudo, exceto Cristo.

Se Jesus fosse um crente moderno, Ele não venceria satanás pela Palavra, mas o teria repreendido, amarrado, mandado ajoelhar, segurado nele pelos cabelos, feito uma sessão de descarrego durante 7 terças-feiras e dialogado com ele longamente. (Mateus 4:1-11)

Ele não teria feito simplesmente o “sermão da montanha”, mas teria realizado o "Grande Congresso Galileu de Avivamento Fogo no Monte", cuja entrada seria apenas 250 Dracmas divididas em 4 vezes sem juros. (Mateus 5:1-11)

Ele jamais teria dito, no caso de alguém bater em uma de nossa face, para darmos a outra; Ele certamente teria mandado que pedíssemos fogo consumidor do céu sobre quem tivesse assim procedido, pois “ai daquele que tocar no ungido do senhor” (Mateus 5 :38-42)

Ele não teria curado o servo do centurião de Cafarnaum à distância, mas mandaria que o levassem em uma de suas reuniões de milagres e lhe daria uma toalhinha ungida para colocar sobre o mesmo durante 7 semanas, afim de que fosse curado. (Mateus 8: 5-13)

Ele não teria multiplicado pães e peixes e distribuído de graça para o povo. Na verdade o pão ou o peixe seriam “adquiridos” através de uma pequena oferta de no mínimo 50 dracmas e quem comesse o tal pão ou peixe milagrosos seria curado de suas enfermidades. (João 6:1-15)

Ele só teria expulsado os cambistas e os que vendiam pombas no templo, se os mesmos sonegassem o dízimo de todo o apurado. (Mateus 21:12-13)

Quando os fariseus o pedissem um sinal, Ele imediatamente levantaria as mãos e surgiriam dentes de ouro, obesos emagrecidos instantaneamente, fora as bênçãos decorrentes do contato com a sua túnica voadora sobre quem ela fosse lançada. (Mateus 16:1-12)

Ele jamais teria ensinado a carregarmos nossa cruz e a perdermos a própria vida para ganhá-la, antes diria que nascemos para vencer e que fazemos parte da geração de conquistadores, e que todos somos predestinados para o sucesso. Provavelmente Ele também lançaria uma severa censura sobre os enfermos e pobres, por considerá-los homens de pouca fé. (Lucas 9:23)

Ele não teria curado a mulher encurvada enquanto ela não participasse e não lançasse sua “semente de fé” na Campanha dos 7 passos para a cura divina. (Lucas 13:10-17)

De forma alguma Ele teria entrado em Jerusalém montado num jumento. Antes teria surgido de forma triunfal numa carruagem real, trabalhada em pedras preciosas. Convidaria autoridades para este evento, dentre as quais Pôncio Pilatos e Herodes. E no louvor estaria a cantora Maria Madalena (que além de cantora também seria “apóstola”) entoando hinos de vitória, “liberando” a benção sobre Jerusalém e declarando seu sucesso no palco diante dos que lhe humilharam no passado.

Se Jesus fosse sequer parecido com os crentes da atualidade, em vez de apresentar as mãos cravejadas e seu lado perfurado como prova de Sua vitória pelo poder de Deus, Ele daria um testemunho contabilizando suas aquisições materiais e ostentando sua ascensão social.

Se Jesus fosse igual a tudo quanto temos visto na atualidade, ao curar o leproso (Marcos 1:40-45), este não ficaria bom imediatamente, mas somente após participar de todas as etapas da campanha milagrosa, sem jamais quebrar uma delas.

Ele não teria expulsado o demônio do geraseno com tanta facilidade, pois teria realizado um seminário de batalha espiritual para, a partir daí se iniciar o processo de libertação daquele jovem. (Marcos 5:1-20)

Se Jesus fosse um típico crente do G12, Ele modificaria o texto de Mateus 19:22-24, para: “ É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um pobre entrar no reino dos céus” .

Se Jesus fosse neopentecostal como os apóstolos modernos, Ele não teria transformado água em vinho, mas em óleo ungido. (João 2:1-12)

Se Jesus fosse igual aos modernos pregadores da teologia da prosperidade, Ele teria sim onde recostar sua cabeça e moraria na área mais nobre de Jerusalém, além de possuir um castelo de verão no Egito. (Mateus 8:20)

Se Ele fosse igual aos “profetas” de hoje, Zaqueu não teria devolvido o que roubou, mas teria doado para o seu ministério. (Lucas 19:1-10)

Se Jesus fosse igual a tantos líderes que temos em nossos dias, Ele não pregaria nas sinagogas, nos montes ou à beira mar, mas na catedral da recém-fundada Igreja de Cristo, e Judas ao traí-lo não se mataria, mas abriria a Igreja de Cristo Renovada.

Se Jesus fosse neopentecostal, não diria que no mundo teríamos aflições, mas diria que teríamos sucesso, honra, vitória, aplausos, riquezas e prosperidade. (João 16:33).

Ele seria amigo dos poderosos, frequentaria seus ambientes (quem sabe até pediria votos para eles). Suas palavras seriam a tradução perfeita de tudo que os fariseus amavam ouvir.

Certamente, se Jesus fosse igual à crescente alcateia de lobos, disseminadores de heresias em proveito próprio, apóstolos e profetas do próprio ventre – Ele não sofreria humilhações e nem morreria por mim e por você… Ele estaria preocupado com “os lucros da fé”.

Ainda bem que Ele não era!

Pr. Reinaldo Ribeiro

João Placoná – Presbítero, Bacharel em Teologia, Pregador da Palavra, Palestrante e Articulista.