sábado, 24 de fevereiro de 2018

Toda verdade sobre as línguas estranhas

dom de linguas

Hoje eu tenho aqui uma tarefa que admito não ser das mais fáceis. Isto porque diz respeito àquele que é considerado o pilar da fé de milhões de cristãos brasileiros, a saber, o Dom de Línguas.

Eu tenho amigos e sou amigo de muitos irmãos pentecostais, a quem amo de forma sincera e a quem também atribuo a virtude da sinceridade. Sei que muitos destes irmãos veem no dom de línguas o grande distintivo, a marca maior de sua lealdade ao Espírito Santo.

Sei também que o movimento pentecostal brasileiro é caracterizado por muitos pontos positivos e excelentes serviços prestados ao reino. Por isso, eu os tenho na mais alta conta, eu os vejo como irmãos em Cristo, com eles coopero sempre que posso em ações conjuntas a favor do evangelho e por todas estas razões terei o máximo respeito nas explanações que farei aqui.

Tudo, porém, a favor da verdade e pelo princípio reformador que rege minha conduta cristã – Sola Scriptura – A Palavra de Deus está acima de tudo e todos.

Nosso tema de hoje questiona qual é a finalidade teologicamente mais aceita para o Dom de Línguas na Bíblia e é claro que esta discussão acaba levando a vários desdobramentos que o tema aborda e eu tentarei deixar meu humilde parecer aqui também.

Esse importante dom mencionado na Bíblia tem sido incompreendido pelos sinceros irmãos da atualidade.

Há mesmo quem afirme que quem não fala em “línguas estranhas” não é batizado com o Espírito Santo (Contrariando totalmente o que está escrito em Efésios 1:13 que afirma somos selados pelo Espírito a partir do momento em que cremos em Jesus e não no momento em que “falamos línguas estranhas”).

Estes mesmos irmãos asseguram inclusive que a única prova de ser batizado com o Espírito Santo é falar “língua estranha” e o cristão que não possui este dom ainda está abaixo do grau de espiritualidade ideal, ou seja, é uma espécie de “cristão de segunda classe”.

Segundo a Bíblia, porém, o dom de línguas é a capacidade de falar outra língua conhecida, em outro idioma (esse é o significado do termo grego para “língua”) com o objetivo de anunciar a boa notícia e salvação por meio de Cristo.

Mateus 28:19, 20 diz que devemos “ensinar as pessoas a guardarem todas as coisas…” Observe que, para ensinar, é indispensável conhecer a língua falada do estrangeiro. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso.” 1 Coríntios 12:7. Concluímos, obviamente, que o falar em língua deve ter uma utilidade; deve ser ao menos, inteligível. Lembrando: que tenha um propósito evangelístico.

Esta experiência autêntica aconteceu com os discípulos por ocasião do Pentecostes (A palavra pentecostes é grega e quer dizer “quinquagésimo (dia)”, pois essa festa era comemorada cinquenta dias depois da PÁSCOA). Leia Atos 2:1-11.

O relato mostra que o dom de línguas foi dado para evangelizar. O verso 6 declara que “cada um ouvia falar na sua própria língua” o que cada seguidor de Cristo dizia e o verso 8 confirma: “e como os ouvimos falar cada um em nossa própria língua materna?” Pela terceira vez exclamaram os estrangeiros: “como os ouvimos falar em nossa própria língua as grandezas de Deus?” (verso 11).

Havia, naquele lugar, cerca de 20 nações diferentes. Os apóstolos não tinham tempo e nem uma escola para aprender todos aqueles idiomas. Você percebeu? Houve uma “NECESSIDADE” de pregar o evangelho em um lugar onde havia muita gente (Deus não poderia perder aquela oportunidade!); por isso, o Senhor lhes deu o dom de línguas estrangeiras. Note que os discípulos não falaram palavras ou sílabas sem sentido. Eram compreendidos em outros idiomas.

Há alguns aspectos importantes para analisarmos o dom de línguas em Atos 2:

1) A mensagem de Pedro centralizava-se em Jesus (Atos 2:22-36);

2) O dom de línguas não foi acompanhado por um êxtase sentimental descontrolado. Observe que a mensagem foi compreendida de forma a haver resultados: 3.000 pessoas foram batizadas! (Atos 2:41);

3) Paulo também afirma que as palavras usadas no dom são idiomas que precisam ser entendidos pelos ouvintes para que se convertam a Cristo. Não adianta nada falar num idioma que a pessoa não conheça: “Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara? Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha? Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar.” (1 Coríntios 14:6-9.) Leia também 1 Coríntios 14: 18, 19, 23.

4) O dom de línguas é um sinal para os descrentes a fim de que ouçam as maravilhas de Deus no idioma deles. Não é um sinal para os crentes, conforme 1 Coríntios 14:22: “De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que creem.” Portanto, tal dom não deve ser usado para orgulho pessoal. O dom de línguas é concedido para evangelizar outras pessoas de outras nações que não conhecem ao Salvador. Não é uma credencial de espiritualidade superior de um cristão.

A BÍBLIA CLARAMENTE IMPÕE REGRAS PARA O USO DO DOM DE LÍNGUAS:

1) No máximo três pessoas devem falar, de forma sucessiva e organizada, um de cada vez – 1 Coríntios 14:27;

2) Deve haver tradutor (intérprete) – 1 Coríntios 14:28;

3) Precisa ser entendido por todos – Atos 2:9-12;

4) Cumprir o papel de edificar a igreja estando subordinado ao dom de profecia (1 Coríntios 14:1, 5, 26).

5) Ser enriquecido pelo amor aos irmãos – 1 Coríntios 13:1 e 9.

Muitos cristãos de hoje ferem essas cinco regras frontalmente. Na esmagadora maioria das congregações pentecostais e neopentecostais há um certo número de pessoas e todos querem falar em línguas ao mesmo tempo.

Não pode haver intérpretes porque são muitos os que falam e que não sabem o que estão falando. Tudo isso pela motivação de seus próprios líderes, que induzem seus fiéis a acreditarem que um culto sem barulho e sem línguas seria um culto sem a presença do Espírito Santo.

Mas o que se observa é uma grande confusão e barulho, que comprometem o testemunho para com os de fora. Além de uma sucessão de línguas fingidas e forjadas por aqueles que não querem carregar a marca de serem reconhecidos como cristãos inferiores.

OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM AVALIADOS SOBRE O DOM

1. A gritaria não pode fazer parte da manifestação de qualquer dom – Efésios 40:30, 31;

2. A pessoa tomada pelo Espírito Santo tem paz e domínio próprio (Gálatas 5:22, 23), ou seja, não cai no chão, não pula, não rodopia, não sapateia, não grita, não sofre unção de riso ou de choro, não imita animais e nem se comporta como desequilibrado mental. Se há presença espiritual nesses episódios, seguramente não podem ser atribuídas ao Espírito Santo de Deus.

3. O dom de línguas não provoca desordem na igreja. Em 1 Coríntios 14:33, 40 é dito que “Deus não é de confusão e sim de ordem e paz.” A obra de Deus sempre se caracteriza pela calma e a dignidade. O barulho choca os sentidos. Por favor, leia  Mateus 6:6 e Gálatas 5:22, 23).

4. O Espírito Santo somente é concedido aos que obedecem a Deus (Atos 5:32). Será que os que se dizem possuidores do Espírito Santo guardam todos os mandamentos de Deus? (ver Tiago 2:10). A pessoa que conhece a Palavra e de livre vontade desobedece a Deus, não tem o Espírito Santo, mesmo que possa parecer! “O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.” Provérbios 28:9.

5. O fato de alguém falar em línguas não é prova de que tenha sido batizado(a) pelo Espírito Santo. A Bíblia apresenta diversas pessoas que receberam o Espírito Santo e, contudo, não falaram em línguas, pois não era necessário. São elas:

• Os samaritanos (Atos 8:17); • Maria (Lucas 1:35); • Estevão (Atos 6:5; 7:55); • Saul, o primeiro rei de Israel (l Samuel 10:10); • Gideão, juiz de Israel (Juízes 6:34); • Sansão, outro juiz (Juízes 15:14); • Zacarias, pai de João Batista (Lucas 1:67); • Bezalel, em tempos remotos (Êxodo 31:1-3); • João Batista e sua mãe (Lucas 1:15 e 41); • Os sete diáconos (Atos 6:1-7); • Jesus Cristo (Lucas 3:22).

Vemos que Jesus nunca falou em línguas. Mas eu creio firmemente que Ele o tinha! Ele não usou esse dom porque não havia uma necessidade evangelística para tal.

Exigir que todos os irmãos falem em línguas é querer dirigir o Espírito. É ir contra a soberania do Senhor, pois somente Deus Espírito Santo é quem distribui os dons como Ele quer: “Porém é um só e o mesmo Espírito quem faz tudo isso. Ele dá um dom diferente para cada pessoa, conforme ele quer.” 1 Coríntios 12:11.

6. O termo “língua dos anjos” só aparece em l Coríntios 13:1, quando Paulo afirma: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” O apóstolo está apenas usando uma hipérbole, destacando que, mais importante que falar a língua dos homens e dos anjos, é ter amor. Ele não está afirmando que essa manifestação estranha de língua angelical fizesse parte de nossa pregação (Leia Gênesis 18 e Apocalipse 22:8, 9, onde os próprios anjos falaram idiomas humanos para que pudessem ser compreendidos! Leia também Gênesis 19:15; Lucas 2:8-14; 1:16-18). Não há nenhum registro em toda Bíblia, mesmo antes da criação do homem de alguma língua dos anjos.

7. Em Marcos 16:17 é dito: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios: falarão novas línguas.” O que significa “falar uma nova língua” na Bíblia? O texto original grego responde. Há duas palavras gregas diferentes para descrever o termo “novas” línguas: neós e kainós. • Neós é algo novo que não existia antes.  • Kainós é algo novo que já existia.

A palavra empregada em Lucas 16:17 é kainós, indicando assim que as “novas línguas” faladas pelos discípulos de Jesus seriam novas apenas para eles que não as conheciam, mas elas já existiam!

A língua falada é um sistema de linguagem em que os seres humanos, dotados de inteligência, se comunicam e se entendem perfeitamente. As “línguas estranhas” faladas em muitos cultos de hoje nada têm em comum com as mais de 3.000 línguas e dialetos existentes na Terra.

Por conseguinte, não possuem importância evangelística e nem servem para identificar quem é cristão consagrado ou não (lembre-se Efésios 1:13).

A teoria de que o genuíno dom de línguas se manifesta hoje na forma de línguas estáticas, não faladas atualmente por qualquer povo ou nação, carece de fundamento bíblico.

As várias alusões, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a “línguas estranhas” (1 Coríntios 14) não aparecem no texto original grego (O termo línguas estranhas foi acrescentado pelo tradutor para tentar “facilitar” a compreensão do texto. Entretanto, dificultou mais ainda, dando apoio à ideia de que o dom de línguas bíblico é algo ininteligível) onde a expressão usada é simplesmente “línguas”. Não sei se você sabia disso, mas somente nesta versão aparece o termo ‘Línguas estranhas.”

Portanto, se estou falando a você em Francês (língua estrangeira) e você não sabe nada de Francês, para você estou falando língua estranha, pois não pode ser entendida. Mas isso não quer dizer que o Francês é um idioma que não pode ser entendível por ninguém. Daí surge a necessidade do intérprete.

MAS O QUE A BÍBLIA QUER DIZER AO AFIRMAR QUE QUANDO ORAMOS EM ESPÍRITO ESTAMOS FALANDO EM MISTÉRIOS?

Por mais que muitos acreditem que orar no Espírito seja o mesmo que orar em línguas, eu muito honestamente não consigo enxergar isso quando analiso a Palavra mais de perto e quando interpreto a Bíblia não com minhas opiniões religiosas, mas comparando com aquilo que a própria Bíblia afirma.

Orar no Espírito é mencionado três vezes na Bíblia. 1 Coríntios 14:15 diz: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. Efésios 6:18 diz: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”. Judas 20 diz: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo”. Então, o que significa exatamente orar no Espírito?

A palavra grega traduzida “orar em” pode ter vários significados diferentes. Pode significar “por meio de”, “com a ajuda de”, “na esfera de” e “em conexão ao”. Orar no Espírito não se refere às palavras que estamos dizendo. Na verdade, refere-se a como estamos orando. Orar no Espírito é orar de acordo com a liderança do Espírito. É orar por coisas que o Espírito nos leva a mencionar. Romanos 8:26 diz: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis”.

Alguns, com base em 1 Coríntios 14:15, igualam orar no Espírito com orar em línguas. Ao discutir o dom de línguas, Paulo menciona “Orarei com o espírito”. 1 Coríntios capítulo 14 declara que quando uma pessoa ora em línguas, ela não sabe o que está dizendo porque está falando em uma língua desconhecida.

Além disso, ninguém pode entender o que está sendo dito, a menos que haja um intérprete. Em Efésios 6:18, Paulo nos ensina: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”. Como podemos orar com toda oração e súplica por todos os santos se ninguém, incluindo aquele que estiver fazendo a oração, entende o que está sendo dito?

Portanto, orar no Espírito deve ser entendido como orar no poder do Espírito, de acordo com a liderança e vontade do Espírito, não como orar em línguas.

QUAL FOI A LÍNGUA FALADA POR CORNÉLIO QUANDO LHES SOBREVEIO O ESPÍRITO SANTO?

Esta costuma ser a grande carta na manga para aqueles que insistem na tese de que exista uma tal língua estranha e misteriosa. Mas a Palavra possui uma explicação bem mais razoável.

O texto diz respeito a Atos 10:44-47. Muitos afirmam que seriam línguas dos anjos, pois não havia estrangeiros entre eles e, portanto, não haveria necessidade de línguas de outras nações. Eu vejo nesse texto apenas uma confirmação de tudo quanto tenho dito até aqui sobre o fato de que as línguas são na verdade idiomas estrangeiros e com o propósito evangelístico. Pedro estava acompanhado por aqueles que eram da circuncisão, ou seja, de judeus convertidos, os quais não acreditavam que o Espírito Santo pudesse ser derramado sobre gentios. Estes irmãos já tinham presenciado o milagre do Pentecostes registrado em Atos 2. Todos nós sabemos que o milagre que houve ali foi justamente a presença de línguas estrangeiras sendo entendidas em seu próprio idioma. Logo, o que eles viram ocorrer em Cornélio foi a mesma coisa e por isso ficaram espantados e disseram que ele tinha recebido o Espírito Santo. Logo em seguida o texto diz que Cornélio foi batizado, provando mais uma vez que o propósito das línguas é evangelístico e missiológico, como claramente aprendemos em Atos 2; Atos 10, 19 e 1 Coríntios 12-14.

Importante ressaltar para concluir que não tenho nenhuma má vontade em aceitar o dom de línguas tal como pensam nossos irmãos pentecostais. Eu passei meus primeiros dez anos de fé dentro do movimento pentecostal, mas todos que me conhecem sabem que sempre fui um grande questionador das cenas que eu assistia no ambiente que frequentava.

Todos também sabem do meu forte apreço pelo estudo sistemático da Palavra de Deus. Logo, foi este aprofundamento que me trouxe aqui. E é bom que se diga coisa: Tal aprofundamento em nada comprometeu minhas convicções do poder e da graça do Senhor. Não sou um teólogo de linha cessacionista.

Creio no poder de Deus, creio nos dons espirituais, creio no mistério da fé com suas nuances que suplantam o entendimento humano, creio que o Deus de ontem é o mesmo de hoje e que Ele pode fazer e faz tudo quanto a Palavra registra.

Todavia, creio conforme a Bíblia e não segundo os rudimentos e as tradições do homem.

Pr. Reinaldo Ribeiro

Pb. João Placoná