domingo, 10 de setembro de 2017

Profetas e Revelações, ainda existem?

profetas

O termo “profecia” adquiriu uma detestável banalização nas igrejas evangélicas atuais. De repente, todos se tornaram profetas e tudo que dizem tornou-se profecia.

O brado “profetiza” ou “declara” são deflagrados nas canções de autoajuda, como um mantra, entoado pelos cantores gospel. Pastores repetem esses termos freneticamente nos programas de TV e nos púlpitos de suas igrejas.

Se há desemprego, eles dizem “profetiza teu emprego”. Se há violência, orientam “profetiza a paz em tua cidade e bairro”. E constantemente declaram coisas do tipo “eu profetizo que o Brasil é do Senhor Jesus”. “Profetizo”, “declaro” etc. – termos que se atropelam, se repetem e se banalizam.

Como resultado, seus reais significados perdem força e se distorcem conforme as intenções de seus manipuladores e de acordo com o baixo nível de entendimento bíblico daqueles que os escutam.

Nessas circunstâncias, quando eles “profetizam” ou “declaram” acabam sendo capazes de crer no absurdo de que Deus está preso a essas declarações, tendo a suposta obrigação de concretizá-las. Ou seja, trata-se de uma blasfema inversão de valores espirituais, onde o Deus todo soberano teria a obrigação de submeter-se às declarações dos tais “profetas”. Você consegue aceitar algo assim? Eu não!

Outro desdobramento absurdo que decorre dessa banalização é a ingerência autoritária e opressora na vida daqueles que se submetem a esse sistema de crenças. Os “profetas” da modernidade decidem casamentos, mandam raspar a barba, cortar o cabelo, mudar as vestes, trocar ou abandonar o emprego e até definem a cor da pintura da igreja. Tudo pela “revelação” de Deus. Dessa maneira estabelecem um verdadeiro terrorismo doutrinário dentro de suas igrejas, decidindo a forma como as pessoas devem viver e menosprezando a orientação bíblica, que nesses ambientes fica sempre relegada a um nível inferior.

Ainda existem profetas nos dias atuais?

Está em escrito em Efésios 2.20. "Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina".

Temos aqui uma evidência de que os profetas não mais existem, pelo menos no sentido de profetas do Novo Testamento, que supriam uma necessidade que não temos hoje.

Eles não tinham ainda a Bíblia completa como nós temos, a completa revelação de Deus. Era um período de transição e recebiam a Palavra diretamente de Deus. Por isso, juntamente com os apóstolos (que também não mais existem) formaram o fundamento ou alicerce da Igreja, sobre o qual somos hoje colocados como pedras vivas.

A conclusão óbvia, portanto, é de que se já existe um fundamento estabelecido, obviamente outros “fundamentos” devem ser rejeitados pela Igreja.

Hoje vemos a profecia manifestando-se com outro sentido e conotação, o de se falar por Deus, ou seja, quando alguém está falando (pregando) a Palavra de Deus, conforme está na Bíblia, essa pessoa está profetizando. Mas isto é bem diferente das revelações que eram dadas aos profetas do Novo Testamento.

Nada mais falta para nos ser revelado, pois se faltasse, a Bíblia estaria incompleta.

Abordando a questão com profundidade teológica

É profundamente necessário entendermos, ainda que de forma resumida, a definição do termo profeta no Antigo e Novo Testamento, para exatamente exemplificar qual a função dos profetas nos dias de hoje, desmitificando algumas divergências em relação a tal função nos nossos dias.

No Antigo Testamento: existem três vocábulos hebraicos principais para profeta:, “navi”, que significa o ato de designar alguém como Arauto. Neste sentido o primeiro termo usado para profeta tinha como papel proclamar, anunciar. O primeiro homem a ser chamado de profeta (navi) foi Abraão (Gênesis 20.7) e posteriormente Moisés (Deut 18.15).

O segundo termo hebraico para profeta é “ish elohim”, homem de Deus. Este termo é mostrado como uma pessoa de confiança de Deus e as pessoas veem isso na sua vida. Não é um título autodenominado, onde a pessoa aplica a si mesmo como sendo um homem de Deus, para gloriar-se. Era um reconhecimento das pessoas para com o profeta.

A sua apresentação como profeta era seu caráter. O terceiro termo para profeta é demonstrado por duas palavras “ro’eh” e “hozeh”, as duas se intercambiam no uso e ambas tem o sentido de vidente. Todos os profetas eram chamados por Deus para exercer tal função; não era uma escolha própria.

Depois de entender o termo profeta no Antigo Testamento, faz-se necessário entender também a função da profecia, antes de descrever a função do profeta no Novo Testamento.

Existem quatro funções básicas da profecia entre os hebreus:

1) O profeta tinha a responsabilidade de encorajar o povo de Deus a confiar de forma exclusiva em sua graça e poder.

2) O profeta tinha a responsabilidade de avisar ao povo que sua segurança dependia de fidelidade à aliança.

3) O profeta devia encorajar Israel quanto às coisas futuras.

4) A profecia era autêntica em termos de previsão, quando se cumpria.

Todos estes aspectos juntos definiam o profeta no Antigo Testamento.

No Novo Testamento: encontramos profetas na Igreja e a profecia é mostrada como sendo um dom. O contexto do Novo Testamento difere do Antigo Testamento e também é diferente até dos nossos dias.

Temos um profeta que prediz o que aconteceria com Paulo (At 21.11,12) e depois profetiza uma grave fome no Império Romano (At 11.27-30), mas a base de tudo isto, é: “A igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20), eles eram a voz de Deus naquele momento da igreja.

Existe profeta nos dias de hoje?

A resposta é sim, mas a voz de Deus hoje é a Bíblia. O profeta então deve saber interpretá-la e deve saber comunicá-la, nunca ultrapassá-la ou acrescentar mais coisas, além do que nela se encontra.

Toda e qualquer revelação deve estar igualada ao ensino das Escrituras. Não se deve pensar que ser profeta nos dias de hoje é igual aos profetas do Antigo Testamento, é bem diferente.

O oficio do profeta hoje está abalizado em I Coríntios 14.4b “aquele que profetiza edifica a igreja”, isto é, sendo um edificador da igreja como um todo.

O grande problema nos nossos dias é que o termo “profeta” tem perdido muito o seu significado bíblico dentro de muitas igrejas.

Ser profeta hoje é Status, é tido como uma pessoa extremamente especial, de um alto nível de espiritualidade. Mas a questão é que as mensagens proferidas por estes por muitas vezes são descabidas e carnais.

Profetizam coisas óbvias, algo que qualquer pessoa poderia dizer a outrem (como nos horóscopos), não é algo especifico, íntimo em que só a pessoa tem conhecimento. E, desta forma, são taxados como pessoas espirituais e íntimas com Deus, mas espiritualidade não está ligada ao fato de falar em línguas ou profetizar, mas sim ao fato de ter uma vida de caráter em tudo que se faz, vivendo a Palavra no dia a dia e não somente em momentos específicos de comoção religiosa.

Outro fator que devemos entender é que ser profeta não é possessão espírita.

Não é possuído por uma entidade fora de si, como se fosse um médium. Ser tomado pelo Espírito Santo não invalida a pessoalidade.

O profeta é um homem que está em posse de suas faculdades intelectivas, tem consciência do que está fazendo.

Portanto que jamais se confunda o Espírito Santo com gritos, pulos, socos no ar, histerias, sapateados ou demais atos desvairados, que ofendem a ordem e a decência do culto cristão.

Está escrito: “o espírito dos profetas está sujeito ao controle dos profetas; porque Deus não é Deus de desordem, mas sim de paz” (I Cor 14.32-33).

Ser um homem de Deus não quer dizer que não é preciso estudar, refletir, amadurecer e crescer de forma espiritual e no estudo teológico. Quem assim procede, dificilmente trilhará os rumos das loucuras que acabamos de citar.

Outra situação trágica que faz parte de nossa realidade é o culto à personalidade. Os profetas se tornam o centro do culto e a igreja vira seu público, como em um show a espera do astro.

Porém o centro do culto deve ser Deus e nada mais (Salmo 100). Muitas são as nomenclaturas criadas para estas pessoas. Algumas são conhecidas como  “santo homem de Deus”, “o homem de palavra poderosa”, “o homem cheio de Deus”. Eles lotam as telas da televisão, as rádios divulgando ensinos extrabíblicos de forma vergonhosa, herética e abusiva.

Tudo o que dizem é uma “verdade de Deus”, exaltam a si mesmos e usam sempre a mesma terminologia, “Deus está me dizendo” “Deus mandou lhe dizer que...”.

É preciso, entretanto, que estejamos atentos. Vivemos o momento histórico vaticinado pela Bíblia, pois têm se levantado nestes dias incontáveis “falsos profetas” que prometem “mundos e fundos” usando o nome de Deus, mas não sendo usados por Ele.

Por que denunciamos os falsos profetas?

Obviamente quando falamos dos falsos profetas sabíamos que iríamos mexer num vespeiro de interesses e maldades e que seríamos hostilizados por aqueles que se vissem atingidos.

O motivo é bem simples. Ninguém quer ver ameaçados seus interesses pessoais, poder e lucros. Em dias atuais nada é mais rentável financeiramente do que a manipulação religiosa.

Essa é a razão porque todos os dias tomamos conhecimento de novos escândalos e crimes protagonizados por supostos pastores e profetas do meio cristão.

Esses que nos atacam costumam usar o argumento de que não temos o direito de julgar o próximo.

Recebemos muitas mensagens com esse teor, quando denunciamos pastores que se envolvem com política ou que pertencem à maçonaria, a prática antibíblica de se ordenar mulheres ao ministério pastoral e os profanadores do culto cristão que hereticamente tentam entronizar danças coreográficas como ministério eclesiástico e os defensores das lastimáveis baladas gospel.

Recebemos tudo isso com profundo respeito e humildade, mas não podemos e nem devemos abdicar da verdade bíblica.

Quando denunciamos os desvios e blasfêmias de pseudoprofetas, além dos engodos de outros que mercadejam a Palavra de Deus, almejamos estimular uma reflexão sobre as inúmeras vidas que, enganadas, não conseguem abraçar ao verdadeiro Evangelho de Cristo, tornando-se infrutíferas.

Jesus condenou os fariseus por seus erros (Mt 23); Paulo fez o mesmo, citando inclusive nomes (2 Tm 4.10-15). Eu não costumo citar nomes, pois a nossa luta não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12).

De fato, não devemos julgar pessoas no sentido de caluniá-las ou dizer inverdades acerca delas (Mt 7.1,2).

No entanto, julgar, no sentido de exercer discernimento e apontar o que está errado, até de maneira irônica (pois a ironia nem sempre é negativa, podendo ser usada para persuadir alguém a desviar-se do erro, como fez o apóstolo Paulo), é bíblico (2 Co 11.5-13; At 17.11; 1 Jo 4.1; Hb 13.9; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; Mt 7.15-23; 1 Pe 4.17). Jesus mesmo disse: “... julgai segundo a reta justiça” (Jo 7.24).

Lendo com oração e meditação o texto de Mateus 7.15-23, além dos outros citados, percebemos o quanto devemos ter cuidado com os falsos evangelhos, que nada têm de evangélicos (2 Co 11.4; Gl 1.6-12; 1 Tm 6.3,4).

E como saber se alguém é um falso profeta?

Simples! Nenhum profeta busca receber glória dos homens ou se comporta como um showman, ele profetiza para ajudar outras pessoas e não para dar espetáculo, nem para parecer importante.

O profeta de Deus não é um “vendedor de novidades” e nem um “proclamador de novas visões”.

O profeta de Deus é tão somente um pregador ungido da Palavra, pois a Bíblia (e somente ela) é a verdadeira, completa, perfeita, segura, santa e suficiente revelação de Deus aos homens. O profeta não inventa novas doutrinas nem distorce o ensino da Bíblia.

Pr. Reinaldo Ribeiro

Pb. João Placoná